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SEMINTENDES

Lendo, vê Semintendes...

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SEMINTENDES

28
Dez08

Nesta noite de Natal

lamire

Começo a estar farto deste formato de Natal.

Estou farto de ver Natais dos Hospitais, coitadinhos, aleijadinhos e tudo o mais que seja má sorte a ser o tema do Natal, adulterando por completo o simbolismo histórico do mesmo.

Com efeito, Jesus, reza a história, nasceu numa manjedoura, mas não queremos com isto dizer,  que a época é para só falarmos da miséria.

O nascimento é o acto mais admirável que a natureza nos proporciona. Celebrá-lo é importantíssimo.

Os media adulteram por completo toda a nossa sociedade e ficamos quedos, mudos, como se tudo estivesse bem. São as novelas, é o futebol, são os telefonemas de valor acrescentado.

Este Natal, só uma coisa  me acalmou um pouco: não ouvi falar de futebol.

O resto foi um contínuo acto de pedinchice que já enoja.

As televisões quase que se guerreavam só para fazerem  actos de solidariedade fácil.

São os telefonemas, são contas solidárias, com nºs onde colocar as verbas, com bancos muitos solícitos a aceitar as mesmas.

E agora? Onde pára tudo isso? Como se prestarão contas?

E o resto do ano?

Rumei um pouco contra esta maré. 

O Lar de S. Martinho é um local onde se encontram crianças também elas fruto desta sociedade desprotegida. Fica ali, mesmo aos pés de S. Martinho do Bispo.

É noite  do dia 23 de Dezembro e o portão está aberto. Entro. Há luz no interior e as portas do lar estão abertas. Vou na direcção de onde escuto som.  Uma pequena sala que dá para um quarto e uma  pequena cozinha. O som da TV não deixa perceber outros ruídos.

-Está aqui alguém? ...... Mas ninguém responde. Aumento o volume da minha voz.

-Um momento!

Passado algum tempo aparece  o Padre Serra, director e impulsionador desta  obra. Não pensava que fosse tão fácil chegar ao principal responsável desta casa.

Ali iniciámos uma conversa que nos levou a um resumo de toda uma vida dedicada aos jovens. Oferece-me a última revista e ali fica falando dos seus pupilos, dos que vão progredindo, dos que já estão arrumados, a trabalhar, dos que partem sem deixar rasto.

-Padre Serra, onde estão as suas dificuldades?

-Temos uma casa que é um Hotel 5 estrelas. Mas, por vezes eles não compreendem. São jovens. Partem muita coisa. Felizmente temos muitas ofertas. Mas é uma obra com 74 empregados! E isso acarreta-nos muitos encargos. Por isso, a maior dificuldade é o dinheiro. Ainda temos algumas dívidas desta obra.

É evidente que não ia ali para resolver os problemas da obra do Padre Serra. A minha mínima contribuição foi um gesto simbólico para tentar fugir do meu descompromisso solidário feito com os 72 cêntimos de um telefonema para  uma missão sorriso.

Mas essencialmente enriquecer o meu conhecimento com  aqueles que fazem da sua vida um Natal completo, dia a dia, entregando-se àqueles que, numa sociedade individualista, não têm um lugar que lhes assegure uma vida digna.

Parabéns ao Padre Serra e à sua Obra.

AS

03
Dez08

Cónego Adriano Santo: Obreiro dedicado da comunicação de inspiração cristã

lamire

 

 

É justíssimo este gesto da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC) ao distinguir três dos cabouqueiros do movimento, não apenas pelo facto de terem atingido o estatuto da jubilação, mas sobretudo porque o seu exemplo de entrega a uma causa nobre e a sua persistência em seguirem pelo caminho traçado, apesar de todas a dificuldades e dos muitos obstáculos a vencer, servem de motivação para todos os que agora assumimos a tarefa de, a diversos níveis e por diferentes modos, tornarmos presente o espírito do Evangelho no vasto mundo da comunicação.
Cabe-me dizer duas palavras sobre um dos distinguidos, o Cónego Adriano Simões Santo. Aceitei, com gosto, esta incumbência, embora necessitasse de um espaço de tempo mais prolongado do que aquele que me foi atribuído, para dizer de todas as razões por que considero o Cónego Adriano merecedor do nosso aplauso e da nossa gratidão.
Tentarei resumir essas razões em quatro pontos:

1. Dos oitenta e picos anos de vida, quase sessenta (se fora o Tio Ambrósio diria quase um moio deles) foram dedicados a tarefas que se prendem com a comunicação.
É quase uma vida inteira, desde o início da década de cinquenta quando, jovem padre, fundou a Voz de Vila Verde, na freguesia do mesmo nome, no arciprestado da Figueira da Foz. Evangelizar; naquele meio bastante descristianizado e onde se fazia sentir algum anticlericalismo; não era tarefa fácil. Um pequeno jornal podia congregar vontades e estabelecer pontes entre as pessoas, mesmo as que apresentavam ideias diferentes.
Depois em Penela, embora o rebanho fosse com maior naturalidade e maior frequência às águas cristalinas, colocou os seus dotes de comunicador simples noutro pequeno jornal, A Voz de Penela, por ele fundado, e que serviu de escola a alguns rapazes que ali criaram o gosto pela escrita. A experiência repetiu-se em Chão de Couce, terra da sua naturalidade, onde fundou a Voz das Cinco Vilas, alargando o seu âmbito, como se depreende do título, às paróquias vizinhas.
O seu entusiasmo e o seu gosto pelos jornais não passou despercebido ao senhor D. João António Saraiva, de saudosa memória, que lhe pediu para assumir a direcção e “O Amigo do Povo”, que havia sido fundado por D. Manuel Coelho da Silva, em 1916, como “órgão da Boa Imprensa”, com larguíssima difusão pelas aldeias das dioceses de Coimbra, de Leiria e de Aveiro, e que chegou – precisamente durante a época da direcção do Cónego Adriano – a uma tiragem de mais de quarenta mil exemplares por semana. Não foi sem dificuldades que exerceu o seu cargo, sobretudo no verão quente de 75, quando alguns cederam à tentação de calar vozes incómodas como a do “Amigo”, dando oportunidade ao Cónego Adriano de ser, por certo, o único de nós que se pode orgulhar de ter conhecido o que é sofrer a perseguição e a prisão, por proclamar os valores em que acredita.
Foi neste pequeno-grande semanário que melhor manifestou as suas qualidades, não apenas de rigoroso administrador, mas igualmente de escritor sagaz e atento quer à realidade da vida, quer ao perfil de milhares de leitores, muitos dos quais vinham à redacção dizer que haviam aprendido a soletrar nas páginas do “Amigo”. Durante muitos anos manteve neste semanário uma secção de casos exemplares, colhidos na sua experiência de relação com as pessoas, a que deu o título de “Retalhos da Vida” e que, felizmente, estão recolhidos em volume. O estilo é sóbrio e a linguagem castigada, na escola do Padre Américo de Aguiar que, com as suas crónicas da Sopa dos Pobres no “Correio de Coimbra” dos anos quarenta do século XX influenciou, talvez sem alguém se aperceber disso, toda uma geração que o admirava na sua acção e, quiçá inadvertidamente, no seu modo de se expressar através da escrita.

2. Uma segunda razão prende-se, obviamente, com as qualidades que caracterizaram e continuam a caracterizar a sua acção – porque o Cónego Adriano, com a sua jubilação aos oitenta, não se remeteu à inactividade, continuando a colaborar, sempre que o acha oportuno quer no “Amigo”, quer no “Correio de Coimbra”, quer mesmo no jornal local “Serras de Ansião”.Dessas qualidades – que são muitas e algumas delas em alto grau – devo destacar duas, que lhe assentam como uma luva: a capacidade de trabalho que me dispenso de comentar, e aquela teimosia que nele é virtude, no sentido que lhe deu o publicista Paul Chauchard naquele livro que intitulou “As virtudes dos vícios e os vícios das virtudes", que o Cónego Adriano, por certo, leu na juventude, numa tradução do seu companheiro de estudos Joaquim Ferreira Gomes. A essa teimosia podemos chamar, se assim o preferirem, persistência ou mesmo perseverança, porque não é próprio dos fortes, apesar dos obstáculos e dos tropeços colocados no caminho por gente menos bem intencionada, desistir da obra começada. E a verdade é que a comunicação de inspiração cristã deve muito à boa teimosia do Cónego Adriano.

3. Como terceira razão para este justíssimo gesto de gratidão, afirmo, por convicção própria, havida de um longo contacto de mais de três dezenas de anos, que o Cónego Adriano acredita naquilo que faz e ama aquilo em que acredita, para me servir de uma das sínteses mais felizes de um dos maiores génios do cristianismo – Agostinho de Hipona. O Cónego Adriano acredita na bondade, na eficácia e na força da comunicação e, por isso, aprendeu a amá-la, tirando daí razões para melhor acreditar nela. Diz o nosso povo que quem corre por gosto não cansa. Pois eu diria que quem corre por amor a uma causa está sempre disposto a consagrar-lhe mais tempo, mais energia e uma dedicação sempre renovada.

4. Se não existissem estas razões, bastaria a última para justificar este acto de lembrança agradecida: o Cónego Adriano é um corredor de fundo e, como tal, aprendeu que a marcha longa se faz melhor acompanhando os que têm os mesmos objectivos e correm na mesma direcção. Ninguém ignora, aqui, que foi ele sempre um dos maiores entusiastas por este movimento associativo, que nos congrega em espírito de serviço à causa da evangelização através dos meios de comunicação. Uma dedicação assim não poderia ficar sem ser assinalada, se mais não fora para que sirva de incentivo aos que estão a meio da jornada, e sobretudo àqueles que agora dão os primeiros passos nesta difícil, mas encantadora missão de transmitir os valores do Evangelho no mundo de novo tempo.
Obrigado, senhor Cónego Adriano, pelo seu testemunho de dedicação a esta causa, e se isso me é permitido, no meu caso pessoal, pela sua longa, profunda e sempre demonstrada amizade. Bem-haja!


A. Jesus Ramos
 

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