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SEMINTENDES

Lendo, vê Semintendes...

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SEMINTENDES

14
Mai07

A "Ti Fofa"

lamire

Miranda do Corvo e Senhora da Piedade, centro de espiritualidade dos Semis em férias. Bem lembro: a velha automotora e depois a penosa subida com a trouxa até à Senhora da Piedade. Os arrais assentavam-se numa casa pertencente à Casa do Gaiato.

 
Lembro três episódios desses encontros de férias, em que nos Agostos de 60 por lá passávamos, calcorreando aqueles montes ou repousando-nos no seu oásis do seu vergel. Vinha-me, então, à mente aquele horacíaco verso do «O Moeliboe, Deus haec otia nobis fecit!» 


 O 1º era aquele tanque de corrente água cristalina, mas gelada, onde nos banhávamos e aprendi a nadar. O 2º era a castiça figura da mansa e branca moleirinha, com o seu burrico, subindo ou descendo do típico moinho, carregado de sacos. Chamavamos-lhe a "Ti Fofa", epíteto que não caía assim lá muito bem no goto à velhinha senhora.

Ora um dia queixou-se ela desta ousadia dos rapazes ao Pe Frade:

- «Sabe, sr Padre, os seus seminaristas chamam-me fofa e eu não gosto assim lá muito!» - «Está bem, minha senhora, eu vou avisá-los disso. Mas como é que a senhora se chama para eu lhes dizer?»

A moleirinha lá disse o nome, que já nem me lembro qual era. Mas o Pe Frade, com toda a convicção de que os semis iriam ter em conta a sua reprimenda, sossega a doce velhinha com as suas doces palavras:

- «Está bem, senhora Fofa. Fique descansada que, de hoje em diante, os rapazes nunca mais lhe vão chamar Srª Fofa!»
 Finalmente, foi este o único lugar na minha vida onde do muro que ladeia a estrada, mesmo perto da capelinha, eu consegui cair para cima de um telhado, ficando encarrapitado com os pés nos barrotes.

Coisa difícil esta de cair para cima do telhado de uma casa, não acham?

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Fernando Neves

13
Mai07

BENTO XVI APROVOU O FIM DO LIMBO

lamire

Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia
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Depois de uma conferência, no período das perguntas, uma senhora atirou-me:

"Sempre é verdade o que dizem: o senhor nega dogmas da Igreja!" Pedi-lhe para dar exemplos.

Ela: que tinha negado o dogma do pecado original.

Aí, perguntei-lhe se tinha filhos.

E ela: "Sim, tenho duas filhas."

Dei-lhe parabéns sinceros e desafiei-a a dizer-me se acreditava sinceramente que as duas filhas tinham sido geradas em pecado e que ela tinha andado nove meses de cada vez carregando com duas filhas em pecado dentro dela.

Ela: "Nem pense nisso! É claro que não."
Fiquei então, mais uma vez, a saber que, frequentemente, há na religião o que se chama dissonância cognitiva: afirma-se uma coisa, mas realmente não se acredita nela, porque se pensa outra coisa.

Aquela senhora, confrontada com a questão, viu claramente que não podia acreditar que uma criaturinha inocente, concebida com amor, tivesse sido gerada e tivesse nascido em pecado, um pecado de que não era autora nem culpada. Mas ao mesmo tempo acusava de heresia quem dissesse o contrário do que lhe ensinaram que devia dizer, sem pensar.

Ora, a fé não pode entregar-se à cegueira, abandonando a razão.
O pecado original não se encontra na Bíblia. Segundo o exegeta Armindo Vaz, a "transgressão" mítica de Adão e Eva "não implica um juízo de ordem ética ou moral nem permite a sua interpretação como 'pecado', 'falta' ou desobediência moral".

Como foi possível essa interpretação moral, se, na lógica dos mitos de origem, a natureza humana ainda estava em processo de criação e as acções do casal primordial são precisamente para "complementar a criação da sua condição humana: 'comer da árvore do conhecimento' (aquisição do conhecimento), cobrir a nudez (aquisição da civilização), sentença divina, decreto de morte e expulsão (aquisição da condição de sofredor, mortal e trabalhador)"?
Já o filósofo Hegel tinha interpretado a saída do "paraíso terreal" como a passagem da animalidade à humanidade. O pecado original foi elaborado essencialmente por Santo Agostinho, com a finalidade de evitar a atribuição do mal a Deus.

Para ele, foi com o pecado de Adão e Eva que veio ao mundo todo o mal, incluindo a morte, e, com esse pecado, transmitido de geração em geração, a Humanidade toda tornou-se "massa condenada" ao inferno, do qual só alguns são libertos pela graça imerecida de Deus.
Esta concepção agostiniana teve pesadíssimas consequências no Ocidente e no mundo. Escreveu o filósofo cristão P. Ricoeur: "Nunca se dirá suficientemente o mal que fez à cristandade a interpretação literal, melhor, historicista, do mito adâmico, ao levá-lo à profissão de uma história absurda e às especulações pseudorracionais sobre a transmissão quase biológica de uma culpabilidade quase jurídica da falta cometida por outro homem, castigado na noite dos tempos, algures, numa fase da evolução entre o Pitecantropo e o homem de Neandertal."
Santo Agostinho não hesitou em deixar cair no inferno as crianças que morriam sem baptismo, entrando assim no Ocidente uma concepção bárbara de Deus. Como foi possível conceber um Deus que teria castigado a Humanidade inteira com o calvário todo da História e o inferno por causa de um único pecado de seres humanos ainda no dealbar da consciência? E como poderia aceitar-se a condenação eterna de crianças inocentes, a não ser que recebessem o baptismo?
O limbo apareceu na Idade Média para atenuar esta crueldade. Assim, as crianças sem baptismo ficavam privadas da visão de Deus, mas não eram condenadas ao inferno. Erguia-se, porém, legítima, a pergunta: não se trataria ainda de um castigo?, e como poderia Deus, infinitamente poderoso e bom, estar dependente, em ordem à salvação, de uma concha de água?

Já em 1984, J. Ratzinger afirmara que o limbo era uma mera hipótese teológica. No passado dia 19 de Abril, o agora Papa Bento XVI aprovou um documento de 41 páginas, preparado pela Comissão Teológica Internacional, que acaba com o limbo e abre as portas da salvação às crianças que morrem sem serem baptizadas.

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