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SEMINTENDES

Lendo, vê Semintendes...

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SEMINTENDES

22
Fev07

Quaresma in blog "Fé e Compromisso"

lamire

     QUARESMA in ´Fé e Compromisso do nosso José Dias, toca no essencial do que é ser cristão. A que grande distância estamos da mensagem da Boa Nova (Evangelho), anunciada por Jesus, o Cristo, e assim proclamada nos finais do século IV e início do século V, por S. João Crisóstomo, quando a Igreja se tinha já tornado hierarquia (poder sagrado) em vez de diaconia (serviço, ministério = o que está em lugar mínimo, como o escravo que serve:" Os reis das nações imperaam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. Convosco não deve ser assim; que o maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar como aquele que serve (...) Ora Eu estou no meio de vós como aquele que serve.(Lc.25-28)
      Acho muito significante a sequência dos textos dos Evangelhos, no momento mais cruciante, em que tornava necessário para Jesus "fazer bem a cabeça" dos Apóstolos, sobre o essencial da sua mensagem: antes da narração da paixão:

   o conhecido por Obras de Misericórdia

   "Eu tive fome e deste-Me de comer...

Foi a Mim - ou não foi a Mim - que o fizeste"  ( Mt 25,31-46); "também vós deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo13,14);"O meu Mandamento é este: que vos ameis uns aos outros comno eu vos amei" (Jo15,12).

Tudo isto no cenário da CEIA PASCAL e da fracção do Pão e do Vinho que, em João,o evangelista de maior penetração nos mistérios da Fé,nem sequer aparece narrada como instituição da Eucaristia. Uma pergunta, pois, se nos põe: porquê tanta aversão do papa e das cúrias romanas à Teologia da Libertação (das práticas do cristianismo tradicionalista, amorfo e de des-socialização)?

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Fernando Neves

15
Fev07

Faleceu o Padre Abílio Duarte Simões

lamire

O Padre Abílio Duarte Simões, de 61 anos, responsável pela paróquia da Mealhada, foi encontrado sem vida, no dia 7 de Fevereiro, à noite, caído junto à valeta, na localidade de Gagos (sua terra natal), freguesia de Cumieira, concelho de Penela.

O seu funeral, presidido pelo Bispo da Diocese, realizou-se no dia 9 com missa de corpo presente na igreja da Mealhada e com a presença de uma centena de sacerdotes e de milhares de fiéis.

O Padre Abílio Duarte Simões foi sepultado no cemitério da mesma localidade.

A forma como morreu o Padre Abílio tornou-se emocionante e chocante para todos nós, porque ninguém estava à espera", disse o Bispo da Diocese na sua longa homilia. Fazendo referência à liturgia do dia, D. Albino caracterizou este sacerdote como "um servidor fiel ao serviço da Igreja e da sua diocese, nomeada-mente do arciprestado da Mealhada".

O prelado da diocese também referiu a grande generosidade do Padre Abílio, que dava aulas gratuita-mente de Latim e Grego no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra.  

A sua função como capelão no Hospital de Cantanhede também era um dom gratuito,

sem nunca ter levado um único tostão, referiu ainda D. Albino Cleto.

Para o Bispo da Diocese, uma coisa é certa, "o Padre Abílio foi um servidor fiel: teve um coração generoso e bondoso". Este sacerdote acolheu ainda centenas de imigrantes oriundos dos países de leste que se encontravam um pouco perdidos na região, disse D. Albino ao concluir a sua homilia.

Bispo de Coimbra aproveitou a ocasião para informar os cristãos presentes "que será muito difícil para o bispo da diocese substituir neste preciso momento o sacerdote falecido", pelo facto de não possuir sacerdotes disponíveis.

O D. Albino Cleto pediu compreensão e paciência pela ausência de um sacerdote nos próximos tempos. No entanto, incumbiu o Padre Godinho (Pároco do Luso) para as tarefas mais urgentes, como os sacramentos (Baptismo, Matrimónio e Santa Unção) e eventualmente algum funeral que se possa realizar. Aos domingos irão alguns sacerdotes de Coimbra para presidirem às eucaristias.

Nascido na Cumieira a 19 de Agosto de 1945, entrou para o Seminário a 7 de Outubro de 1956 e foi ordenado em l de Agosto de 1970 por D. Frei Francisco Fernandes Rendeiro. Posteriormente licenciou-se em Estudos Clássicos na Faculdade de Letras.
Foi nomeado coadjutor de Cantanhede a 5 de Setembro de 1971; capelão militar a 15 de Maio de 1974; reitor da Mealhada e pároco de Vacariça a 13 de Outubro de 1974; administrador da Paróquia de Serpins a 3 de Fevereiro de 1988; pároco de Casal Comba e Ventosa do Bairro a 29 de Setembro de 1989.

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Miguel Cotrim, in : Correio de Coimbra, 15Fev2007

13
Fev07

Padre vota "Sim"

lamire

Um padre diz que vota "Sim", no referendo, porque entende que de­ve acabar a humilhação das mulheres em tribu­nal e o "verdadeiro infanticídio" a que obriga a lei actual.
 
O padre Manuel Costa Pin­to, de 79 anos, defendeu, em Viseu, que a mulher deve ser libertada "dessa coisa vergonhosa que é o julgamento e os exames à sua vagina" e tam­bém do castigo da prisão e deu o exemplo de Jesus Cristo, que perdoou a adúltera. "Jesus dis­se 'aquele que estiver sem peca­do que atire a primeira pedra’ e ficou apenas ele e a mulher. En­tão acrescentou: ' eu não te con­deno, vai, e não tornes a pecar’. O nosso Magistério, papas e bispos, não podem esquecer isto", frisou.
Por outro lado, o padre afir­mou não compreender como "pessoas sensatas" podem alhear-se do "verdadeiro infan­ticídio" que muitas mulheres co­metem depois do nascimento dos filhos. "Mulheres com me­do, que não têm dinheiro para ir para o aborto clandestino e muito menos para o estrangei­ro, disfarçam a gravidez até ao parto. Vão para uma casa de banho, sai uma criança, aí sim, já uma criança, metem-na num saco e deitam-na ao caixote do lixo, ao esgoto ou até no cam­po", lamentou.
Na sua opinião, estas situa­ções só acontecem "por causa da lei que existe actualmente", sendo que, nestes casos, já con­sidera existir um crime, porque se o bebé nasceu com vida "é uma pessoa com personalidade jurídica".
Divisões mesmo na Igreja
O padre Manuel Costa Pinto garante que não há unanimida­de mesmo no modo como o Ma­gistério e os teólogos católicos abordam este problema. Consi­dera que o Evangelho, com o exemplo de Jesus Cristo, basta­ria para justificar a sua opinião, mas, no entanto, preferiu tam­bém apontar as posições to­madas ao longo dos tempos pa­ra sustentar que, ao despenalizar-se a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas, não estará sequer a falar-se de um "ser humano". Aludiu ao li­vro "Bioética", que levanta a dú­vida sobre o zigoto "ser ou não o adulto em que o embrião se desenvolve", e também "Deus, a Medicina e o Embrião", de René Frydman, sobre a ideia do "fiIho-projecto".
Esta ideia encontrou-a tam­bém no campo católico, numa obra do jesuíta espanhol Carlos Domingues Morano, que "diz que a geração de um filho tem que ter o desejo dos pais, que só com o espermatozóide e o óvu­lo não há filho", contou.
Citou São Gregório de Nisse, para quem "não se pode chamar homem ao embrião, dado o seu estado imperfeito; na verdade, nesse estado não passa de uma coisa virtual que, após o devi­do aperfeiçoamento, poderá atin­gir a existência do homem; po­rém, enquanto se encontra nes­se estado de inacabado, é qual­quer outra coisa". Também São Jerónimo considerava que "o sé­men toma forma, gradualmen­te, no útero; não há homicídio, enquanto os diversos elemen­tos não forem visíveis e dotados dos seus membros". A teoria de Santo Agostinho, segundo o qual "não pode dizer-se que se possa privar alguém de uma al­ma que ainda não tenha recebi­do", e a de São Tomás de Aquino sobre a "forma substancial dos viventes, chamada alma", que "requer uma certa disposi­ção orgânica, ou seja, partes heterogéneas", foram outras apre­sentadas pelo padre.
Citando o actual Papa
Um dos documentos mais re­centes é, segundo o padre, um pronunciamento da Congrega­ção da Doutrina e da Fé de 1987, então presidida pelo Cardeal Ratzinger, actual Papa, segundo o qual "o ser humano deve ser respeitado e tratado como pes­soa, desde a sua concepção". "Diz que o embrião deve ser respei­tado como uma pessoa, mas não diz que é uma pessoa", real­çou, lamentando que "os mais papistas que o Papa, para levar a sua avante", estejam a "exagerar os textos".
Admitiu que a maioria dos padres portugueses não partilha da sua opinião, mas considera que esses "nem sequer estuda­ram o problema", porque "os bis­pos disseram que era a questão do aborto que estava em causa e pronto". Disse ter gostado de ou­vir a opinião do Bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, que afirmou que votaria "Sim" no referendo caso a questão posta a votação fa­lasse exclusivamente na despenalização da mulher. "Ele não foi totalmente coerente. Ele devia entender a pergunta, porque tem inteligência para isso", consi­derou, acrescentando que, no en­tanto, compreende a sua atitude de "prudência".
O vigário-geral da diocese de Lamego, à qual pertence o padre que anunciou que votará "Sim" no referendo de domingo, disse que terá uma conversa com o sa­cerdote para esclarecer a sua po­sição, mas numa "base de cari­dade".
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08
Fev07

Abílio Duarte Simões faleceu

lamire

Hoje fomos acordados por esta notícia de choque, daquelas que nos põem a pensar que, acima de nós, algo se determina sem direito sequer a uma alternativa.

Foi o que aconteceu ao nosso amigo Abílio Duarte Simões, cujas crónicas muitas vezes saboreámos neste Semintendes,  e que, primeiramente, redigia para o Correio de Coimbra.

Ontem à noite, partiu sem  avisar.

Nascido a 19 de Agosto de 1945, entrou para o SIC em 1956, tendo sido ordenado em 1 de Agosto de 1970.

Era pároco há muitos anos na Mealhada e Vacariça, sendo membro do Conselho Presbiteral para a região Pastoral do Centro, zona da Mealhada e Mortágua.

Na noite de 7 para 8 algo o surpreendeu, sem azo a resposta e a vida deixou-o sem poder, certamente, concretizar muitas das valências que tinha.

A sua escrita, a sua forma de actuar com a palavra, directo, concreto, simples, actual,  fazia com que fosse imensamente lido e anotado.

Nós procurámos corresponder a esse dinamismo, colocando on line, aquilo que o Correio de Coimbra  lançava semana a semana.

---------- Consulte  a nossa lista de títulos------------

Certamente que estará, neste momento, fazendo parte do "Conselho Presbiterial Celeste".

Ficam para sempre as suas obras, numa imagem que não vamos esquecer.

08
Fev07

Compreensão

lamire
Abílio Duarte Simões
in: Correio de Coimbra, 8Fev07
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Vamos lá ser compreensivos.
Há umas eleições voluntárias, a cabine (entenda-se, mesa) de voto está completamente desprotegida, colocada (naturalmente sem intenção) entre a mesa que dirige os trabalhos e um cida­dão que só não vê em quem se vota se quiser esforçar-se para não ver?
Seja­mos compreensivos.
Uma senhora a quem arranjaram o ministério da igualdade, (certamente) para não a desigualar ministerialmente, diz que "o 'sim' (ao aborto) é tolerante e 'não' é intolerante"?
Sejamos com­preensivos.
Num programa de rádio, uma hu­morista (supostamente do 'sim') põe a 'falar' uma tia Matraca, acérrima defensora do 'não' e a quem aconteceram uns desastres, como o da filha "que estava muito gorda e foi a Londres fa­zer uma cura de emagrecimento"?
Seja­mos compreensivos.
Um músico afina as suas notas con­tra o 'não', injuriando e dando ao arti­go o título de "interrupção voluntária da estupidez"?
Sejamos compreensivos.
Na Mealhada não se realizou um debate sobre o aborto porque, apesar de numerosos convites, ninguém do 'sim' teve disponibilidade para partici­par? Seria só pela (reconhecida) com­petência do representante do 'não'?
Se­jamos compreensivos.
José Sócrates regressa da China (onde, graças ao ministro Manuel Pi­nho, ficou a saber-se que não são euro­peus os ordenados lusos) e garante logo que "nada vai mudar se o 'não' ven­cer", assim se afirmando a (im)par-cialidade?
Sejamos compreensivos.
A propósito da China, os políticos fazem lá corridas matinais (António Barreto até lá viu o Tintim), viajam (por onde os deixam?) por onde que­rem, vêem tudo o que podem e nada têm a dizer sobre os tortuosos cami­nhos dos direitos humanos? E será ver­dade que, dentro de meses, com Portu­gal na presidência da União Europeia, vai ser desbloqueada a venda de armas aos chineses? Talvez feitas com baixos salários?
Sejamos compreensivos.
Mais um habilidoso conseguiu a com­preensão do ministro da Justiça, foi in­dultado pelo Presidente da República, não cumpriu a pena a que estava conde­nado e... foi gozar a liberdade para ou­tro lado?
Sejamos compreensivos.
Um cidadão é (bem ou mal mas muitos dizem que mal) condenado por ter cometido o crime de sequestro. Logica­mente a Esmeralda sequestrada devia aparecer. Ao menos devia constar (com segura certeza) que estava a ser procu­rada, que as autoridades não davam des­canso aos cúmplices do condenado, que tudo faziam para descobrir o paradeiro da menina, até para não se ficar com a impressão que houve mais pressa em condenar (bem ou mal, não sei discu­tir) um adulto do que em salvar uma criança?
Sejamos compreensivos.
Mes­mo sem compreendermos. Nem poder­mos compreender.
Já agora outra questão.
Família po­bre, sem apoios, sem possibilidades de ultrapassar todos os constrangimentos económicos, é dona de pequeno terre­no onde, embora com muitas dificulda­des, conseguiria construir a casa. Só que... Sem saber como (até desconfia que o terreno foi violentamente "seme­ado" por um inimigo...) apareceu lá um sobreiro, ou dois. Agora não lhe dei­xam fazer a casa... porque tem de se salvar o sobreiro. Que os donos do ter­reno não queriam. Também para o caso há-de ter-se compreensão.
Mas à ma­traca, não.
07
Fev07

Por opção da mulher

lamire

Frei Bento Domingues, O.P.

O "sim" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez, dentro das dez semanas, é contra o sofrimento das mulheres redobrado com a sua criminalização. Não pode ser confundido com a apologia da cultura  da morte, da cultura do aborto

1. Estava já nas últimas páginas da tese e doutoramento de Vítor Coutinho, defendida na Universidade de Münster (Alemanha) - que investiga o paradigma da fecunda interacção entre Bioética e Teologia,  terminando com o elogio da interrogação (1) -, quando fui surpreendido
com as respostas ao inquérito do DN (30/01/2007):

"Concorda ou não que, na defesa dos seus princípios, a Igreja Católica se envolva directamente na campanha do referendo?"

Cinquenta e oito por cento rejeita o envolvimento da Igreja e trinta e quatro por cento apoia a sua intervenção.
Donde virá tanta alergia à intervenção da Igreja Católica,  identificada abusivamente com a hierarquia?
Circula, há muito, a opinião de que a Igreja tem uma resposta dogmática, irreformável, para todos os problemas sem se preocupar com as perguntas e com os dramas das pessoas, sobretudo no campo da ética  sexual.

Ainda agora, na carta aos párocos e paroquianos da diocese de Lisboa sobre o referendo, o cardeal-patriarca expressa, logo no primeiro ponto, uma norma que, segundo alguns, não deixa espaço para o esclarecimento e para a liberdade de consciência:

"A doutrina da  Igreja sobre a vida, inviolável desde o seu primeiro momento, obriga em consciência todos os católicos. Estes, para serem fiéis a Igreja, não devem tomar posições públicas contrárias ao seu Magistério. O esclarecimento que os católicos são chamados a fazer sobre esta  questão tem de ter em conta também os critérios de fidelidade à Igreja."

Os problemas de consciência nem sempre foram resolvidos desta maneira.

Nem é preciso recuar até S. Tomás de Aquino. Joseph Ratzinger, hoje  Bento XVI, quando era professor de Tubinga, escreveu um texto, pouco antes da Humanae Vitae (1968), que Hans Küng, seu colega e amigo, transcreve, agora, nas suas Memórias. Só posso deixar, aqui, um fragmento:

 "Acima do papa, como expressão da autoridade eclesial,  existe ainda a consciência de cada um, à qual é preciso obedecer antes de tudo e, no limite, mesmo contra as pretensões das autoridades da Igreja."


Dir-se-á que o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e actual  Papa já teve práticas pouco conformes a esta sua luminosa afirmação.
Mas não podemos ignorar que, de modos diferentes, toda a Igreja é docente e discente. Esta interacção é, muitas vezes, esquecida para se pensar, apenas, na palavra da hierarquia e na dos leigos que a  reproduzem.

2. A corrente laicista, que deseja a Igreja fechada na sacristia, não creio que seja maioritária na sociedade portuguesa, apesar do nosso passado anticlerical. Mas a grande alergia à presença activa da Igreja  talvez resulte da ideia de que ela quer fazer da sociedade e do espaço público uma sacristia.

As declarações e posições pouco católicas de certos movimentos, personalidades e de alguns padres dão a impressão de quererem entregar à repressão do Estado, do Código Penal, dos tribunais, da polícia, da cadeia, as suas convicções morais - isto é, parece que não confiam na consciência das mulheres, na sua capacidade de discernimento, para percorrerem todos os caminhos necessários até  chegarem a uma decisão bem informada, responsável, prudencial, no sentido que a virtude da prudência, virtude da decisão bem informada, tem em Aristóteles e Tomás de Aquino.
Ora, como escreveu o prof. Vital Moreira, "quando se fala em  "despenalização" de certa conduta, tanto no discurso leigo como na linguagem jurídico-penal, o que se pretende é retirá-la do âmbito do direito penal e do Código Penal, ou seja, da esfera dos crimes e das  respectivas penas. (...) Só a legalização proporcionará condições para fazer acompanhar a decisão de abortar de um mecanismo obrigatório de reflexão da mulher que o pretenda fazer" (2). E nunca se deve confundir o que é legal com o que é moral.
Como dizia Tomás de Aquino, só somos verdadeiramente livres quando evitamos o mal, porque é mal, e fazemos o bem, porque é bem, não porque está proibido ou mandado. Todo o trabalho que a Igreja tem a fazer é, precisamente, o de ajudar as pessoas a caminharem para esse  ponto de lucidez.

Esclarecer as consciências não é formatá-las, não é impor-lhes uma outra consciência, não é aliená-las. Quando, nas condições e no prazo referidos, se chama "assassinas" às mulheres que  recorrem ao aborto - que a Igreja e qualquer pessoa de bom senso desejam que nunca venha a acontecer -, pode estar-se a insultar, exactamente, as que sofrem os dramas que acompanham essas decisões dolorosas. A resposta ao referendo não deve extravasar o âmbito da  pergunta aprovada.


3. Em última análise, a grande suspeita em relação à pergunta do referendo está neste fragmento da frase:

 "por opção da mulher."

E porquê? Porque se julga que as mulheres não são de confiança. No  entanto, foi a elas que a natureza confiou a concepção e o desenvolvimento da vida humana, durante nove meses.
Para os cristãos, esta desconfiança em relação às mulheres deveria ser insuportável.

Não se lê, no Novo Testamento, que a Incarnação  redentora ficou para sempre dependente da decisão de uma mulher, Maria de Nazaré (Lc l, 26-38)?

Não foram as mulheres - e, segundo a cultura do tempo, não podiam testemunhar em tribunal - que são apresentadas, nos seus textos fundadores, como as grandes testemunhas do processo de Jesus?

Não foram elas que testemunharam que Ele estava vivo, quando os Apóstolos já tinham concluído que estava tudo acabado?

Não foi Maria Madalena a escolhida, por Jesus ressuscitado, para evangelizar os  Apóstolos, para os convocar para a missão (3)?


E certo que os homens, logo que puderam, as subalternizaram. E, até hoje, por serem mulheres, estão, à partida, excluídas de serem chamadas para os ministérios na Igreja.
No debate sobre o referendo, receio que a Igreja - ao não dar sinais claros de respeito pelo pluralismo no seu interior - perca, uma vez mais, a ocasião de se manifestar verdadeiramente católica.

01
Fev07

Os slogans já abortaram?

lamire
Abílio Duarte Simões, Correio de Coimbra, 25jan07
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"A dignidade não tem preço"
- assim proclama um cartaz tendo como pano de fundo a próxima votação sobre o aborto a que deram o nome de "interrupção voluntária da gravidez". Sobre essa troca todos estamos esclarecidos, nomeadamente aqueles que a não fizeram inocentemente.
O preço há-de, porventura, ainda ver-se. Quanto à dignidade não é só agora que ela não está à venda! Igualmente não é propriedade de ninguém, nem exclusivo de alguns, nem coutada de pequeno grupo.
Pelo menos dois slogans falam de "o sim responsável".
Ora aí está o sentido da responsabilidade. E já a pagar preço. Se há "o sim responsável" também haverá o "sim irresponsável"? E se há qual é mais numeroso? E qual preferir, o maioritário ou... o minoritário? Para não considerar que este "sim responsável" parece (ou está mesmo?) propor que "o não é que não tem qualquer responsabilidade". Mas tudo acusações democráticas.
"Agora sim"
dizem outros. Claro. Até agora todo o mundo andou às cegas. Ninguém viu, ninguém atendeu, ninguém propôs caminhos, ninguém ajudou a encontrar respostas (escrevi respostas, no plural, está bem?), ninguém reparou que havia alternativas. "Agora sim", de verdade?
Não vai falar-se mais do assunto? E se o resultado for diferente do que se espera?
"Não obrigada"
é declaração que surge repetidas vezes como repetidamente acontece a falta de (pequena) vírgula que ajudaria a perceber a mensagem. A menos que já não haja problema quando a pessoa já não é obrigada... Embora também se proclame que "aborto a pedido, não".
Quando surgem os "médicos pela escolha" está a insinuar-se que há clínicos que não escolhem, não sabem escolher, não escolhem reflectidamente, não pensam... para escolher?
"A mulher decide, a sociedade respeita, o Estado garante"?
Ora vamos lá ver. Pode (deve) tomar-se qualquer de­cisão? Toda a decisão merece (naturalmente) respeito mas... o Estado deve dar as mesmas (e melhores) garantias à não-vida e à vida?
"Diz não à discriminação"
queria proclamar um dos grupos de cidadãos cuja inscrição foi rejeitada... calculo que sem discriminação. Outro grupo rejeitado anunciava "sim pela liberdade". Se o primeiro não parece claro já o segundo garante que... liberdade só com ele! Os outros podem ser convictos, persistentes, lutadores, corajosos, decididos? Livres é que não! Para exemplo de respeito pela liberdade alheia não estará mal! Talvez a rejeição se deva, contudo, a qualquer outra anomalia.
"Recenseia-te para seres tu a decidir".
Com este imperativo outro cartaz apela à cidadania participativa. Também ele dá que pensar. O novo recenseado (ou a nova recenseada) não se integra numa comunidade... eleitoral, não colabora na decisão, não começa a partilhar (novas) responsabilidades. Nada disso. Ele (ou ela) é que decide. Até parece ter chegado tarde. E que todos estavam à sua espera. Chegou, viu... e venceu. À maneira de César. Só que para vencer teve de derrotar. Em 11 de Fevereiro haverá só vencedores? Era bom.
Já agora, também invento um slogan:
Aborto, por que não?...
Valerá a pena pensar nisso?

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