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SEMINTENDES

Lendo, vê Semintendes...

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SEMINTENDES

28
Nov06

Religião e Fé

lamire

A intervenção 1028 do amigo Licínio onde, a propósito das catástrofes provocadas pelos temporais e a forma como a vida vai estando ameaçada por estes e outros acontecimentos, ele questiona sobre se a religião e a fé estão em decadência ou nem por isso, ocorreu-me partilhar convosco a reflexão que se segue.

A humanidade, no seu processo evolutivo, atravessou diversas fases, destacando-se dentre elas o teocentrismo (uma visão cosmocêntrica onde Deus estava no centro e era o causador directo de todos os fenómenos bons ou maus) e o antropocentrismo (modo de ver que considera o homem como o centro e com um lugar importante na natureza criada.

A primeira visão dominou até aos finais da Idade Média e deixou medos no nosso subconsciente alimentados, sobretudo, pelos poderes religiosos e políticos instituídos. Segundo eles, tudo o que de mau acontecia na natureza era castigo de Deus. Chuvas torrenciais, dilúvios, maremotos, tremores de terra, ou simples trovoada, etc., era Deus que castigava ou estava muito zangado com os humanos, homens e mulheres. Por isso, havia que acalmá-lO, apaziguá-lo com rituais religiosos de submissão, de humilhação.

A partir das descobertas e do Renascimento, muitos desses fenómenos naturais foram-se tornando cada vez mais inteligíveis pela explicação proveniente da ciência em geral. Chega-se assim ao conflito da Fé com a Razão que os tempos modernos tentam conciliar, desfazendo o que parecia um antagonismo visceral.

Segundo a revelação cristã, Jesus veio para que os homens "tenham vida em abundância" e para mostrar o rosto amoroso de Deus, constituindo este a sua essência, numa das suas últimas definições bíblicas: "Deus é amor."

É neste Deus que eu creio; não num Deus sacana e humilhante redutor da sua criação, em geral, e do homem, em particular, que "Ele criou à sua imagem e semelhança.» Um Deus criador que aprecia tudo o que criou com a classificação de "era bom" e "muito bom" nunca se pode tornar num Deus destruidor, des-criador da sua própria obra, a que deu a força de evoluir continuamente, nem permitir que as forças do mal a destruam pois, então, estas passariam a ser mais poderosas do que Ele e ocupariam o seu lugar. O mundo não acaba, vai-se transformando numa existência a que Ele sempre presidirá, como entidade fonte do Bem.

É verdade que a nossa maldade e, principalmente, a dos governantes políticos mundiais vão inculcando venenos parcialmente destruidores no planeta. Ele são as guerras, as experiências nucleares, os fumos carbónicos de toda a espécie para os quais também todos nós contribuímos com a nossa quota-parte.

Por isso, não será Deus que mediante petições religiosas terá de resolver o problema, mas sim nós criaturas, evitando fazer aqueles males, sendo ecologicamente responsáveis.

Não creio num Deus que goste de ver ou provoque situações de miséria na criação para depois actuar como libertador, salvador. Tal Deus seria a negação da sua própria essência: AMOR. Assim como também não acredito num Deus que se aproveite da miséria de países pobres e de situações socais aviltantes e degradantes para a dignidade do ser humano para aí fazer florescer vocações religiosas celibatárias. Outros motivos estarão na base dessa florescência, de que a Igreja bem sabe tirar partido, porque o nosso Deus é pela dignidade humana e quer que todos colaborem com Ele na promoção dessa dignidade, principalmente aqueles que vivem na abundância e a podem e devem partilhar com os mais pobres.

Se, em sociedades deste tipo, Deus parece ser o grande ausente não será por sua culpa, mas sim pela imagem de Deus que os responsáveis religiosos, ao longo dos tempos, quiseram e ainda querem fazer passar: um Deus que se aplaca com rituais de oração e penitência individual e colectiva, com incensações e com devoções de toda a espécie. E não aquele Deus que se identifica com qualquer ser humano, principalmente aquele que é despojado da sua dignidade para, através dos que o amam e com Ele colaboram, o elevar da sua pobreza ou situação desumana. Ele é o Deus que se manifestou em Jesus e veio "para servir e não para ser servido" e que, no memorial da Última Ceia, expressa, como sua última vontade, a exigência de idêntico comportamento àqueles que decidem ser seus seguidores:

"Compreendeis o que vos fiz? Chamais-me Mestre e Senhor… Ora, se Eu vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros. (…) Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros…» (Jo.13) E Mateus faz anteceder o capítulo da Última Ceia (Mt. 26) pela narração apelativa do bem conhecido "Vinde, benditos de meu Pai, porque eu tive fome e deste-Me de comer…» (Mt. 25).

Fé ou crença? Para mim, aquela é fundada em força divina; esta tem mais a ver com imposições humanas, medos que atavicamente controlam o nosso consciente ou subconsciente sendo fruto de uma hierarquia (poder sagrado), que o não devia ser, mas sim diaconia (serviço, ministério = aquele que é o mais pequeno, o menos importante, mas servidor dos outros, como Jesus que assumiu o papel de criado, escravo, lavando metaforicamente os pés aos seus apóstolos.

Só assim as pessoas não se aproximarão de Deus por medo ou porque suplente das suas necessidades, mas por razões essenciais que têm a ver com a sua dignidade e a dignidade dos outros, numa partilha amorosa: "Deus Caritas est" e "vós sois deuses".

19
Nov06

Olá Juventude!

lamire


    Acabou por sair mais uma dose. Paciência a vossa se conseguirem ler!
    A minha última reflexão, que saiu muito densa, foi motivada pelo último Blog do José Dias, em Fé e Compromisso a que se tem acesso mediante este nosso espaço. Pedia o José Dias comentários e, ao correr da pena digital, alinhavei aquelas ideias, lastimando os desperançados caminhos para o qual os n/políticos empurram o porvir dos nossos filhos e netos. Obrigado pelos v/ comentários.
   
Depois de breve ausência e a pedido de alguns interessados, sou o Fernando Neves, o nº 745 da incorporação imaculada de 1957. A minha foto encontra-se, para os interessados em reconhecer a minha fronha, nos ex alunos da Figueira, em encontros, no encontro de CONDEIXA, lista geral das fotos, nº0224, assinada no índice fotográfico do mesmo.

   Terminei o curso de teologia em 1969, ano em que fui ordenado, 'filho único`. Pedi dispensa do ministério e casei em 1977. Minha esposa é a Maria Isabel e sua foto está no mesmo encontro, em cavaqueira nº2, a 2ª figura a contar da direita.
   A propósito do que em participações anteriores se falou sobre a actual educação nos Seminários, incluindo a obrigatória vertente celibato, diria como Jesus Cristo: "Não tentarás a Deus!" Penso que a Igreja não deve cingir-se a pedir vocações exclusivamente celibatárias, as que são do seu gosto, mas deve estar aberta ao sopro do Espírito que diz "Eis que faço novas todas as coisas."

   Dizia o nosso Reitor e grande mestre de teologia Dr. Manuel Paulo que "uma Igreja que por razões disciplinares (o celibato) deixasse os seus filhos sem pão, não era uma Igreja que era mãe, mas era uma Igreja madrasta." Tré-tré- tréu, pardais ao cesto. Como se compreendem estas contradições?!...
    Um sínodo dos Bispos o Ano passado em Roma, que gastou milhões ao Povo de Deus, que teve o fim do celibato obrigatório na agenda e acabou por optar pelo não? Um cardeal dos Seminários que, segundo li no Semintendes, vem apregoar as coisas na mesma linha estática do celibato? E um Bento XVI que, segundo as notícias de hoje, acaba de convocar os cardeais da Santa Madre Igreja para mais uma vez discutir este assunto?
   Por que ainda se não abriram ao sopro do "Espírito que sopra onde quer e como quer"?

13
Nov06

Cardeal Hummes defende mais rigor na selecção de seminaristas

lamire
O prefeito escolhido por Bento XVI para a Congregação para o Cle­ro, o Cardeal brasileiro Cláudio Hummes, considera que um dos desa­fios da Igreja Católica é procurar mais rigor na selecção e na forma­ção dos seminaristas.
O Cardeal Hummes revelou que o Vaticano "tem dado orientações" e que é necessário "que nos seminários haja uma selecção mais rigo­rosa, uma formação mais exigente, para que nós tenhamos essa certe­za moral de que eles (os futuros padres) vão ter condições de viver o celibato, como a Igreja pede que eles vivam".
Para o Cardeal, até agora arcebispo de São Paulo, a perda de fiéis é outro desafio que a Igreja deve enfrentar. "Nós devemos evangelizar mais, ir à periferia pobre de casa em casa. Nós temos que visitar as pessoas. Elas têm que sentir o calor da Igreja em que foram baptiza­das", apontou.
in: Correio de Coimbra,Em linha com...o Vaticano, 9Nov2006
03
Nov06

interromper... ou acabar de vez?

lamire

"Não me interrompa, por favor"! Quem é que já não ouviu palavras destas? E quem se exprime deste modo, reconhecendo-se interrompido, ou interrompida, fala assim porque... tenciona falar novamente.

"O jogo está interrompido"? Pois ficamos a aguardar que... prossiga dentro de algum tempo.

"Houve uma interrupção no trânsito". Se vamos no mesmo sentido, poderemos demorar mais tempo mas... há-de chegar a nossa vez de passar.

"O ministro da Economia carregou no interruptor e só vamos pagar seis por cento de aumento". Ficamos todos esclarecidos. Os aumentos (do que pagamos) não acabaram. Prosseguem dentro de momentos. Como um jogo que estava interrompido. Ou o trânsito que esteve momentaneamente parado.

"Temos de apertar o cinto ininterruptamente"? Apenas enquanto o cinto aguentar. Mesmo que o dono já tal não consiga.

E vamos ao raciocínio que se pretende propor. Sem interrupções. Mas não sem, antes, reparar­mos que a linguagem portuguesa está (estará) cada vez mais... corrompida. Embalado nas delícias da terra de sua majestade e embebido em russopetrolífero canto, José Mourinho entra em milionário reclame, a anunciar casas para "alugar".

Quando se pensava que há casas para "arrendar". E um anúncio radiofónico fala do advérbio "a partir de" (esclareça-se que a frase é bem pronunciada e seja permitido perguntar se sabe escrevê-la quem fala... de advérbios destes).

Quer agora o nosso não interrompido Governo que nos pronunciemos sobre a legalidade da "interrupção voluntária da gravidez, por decisão da mulher...".

Há na pergunta coisas surpreendentes.

"Voluntária", diz-se. Claro. Admitiam que fosse involuntária? Se não admitem por que escrevem assim? Por decisão da mulher? Então não se tem defendido que a mulher é a única responsável pelo que se passa consigo? E vão os outros decidir sobre o modo de ela proceder? E o que quer dizer interrupção? Não tem o mesmo sentido para todos? Os dicionários estão errados? Andam uns a interromper raciocínios e outros a acabar... com vidas, dizendo que se trata, apenas, de interrupção? Custava muito ser claro?

Não era muito mais democrático perguntar, por exemplo: "Concorda que o casal (ou a mulher, se não houver casal) decida, sem consequências penais, acabar com o amontoado de células indiferenciadas que a mulher traz dentro de si, em qualquer momento da gravidez?"

Ganhava a clareza de linguagem e ganhava-se tempo. Pois, se ganhar o sim ao aborto, o próximo referendo não poderá ser proposto pêlos adeptos do não. Mas será para dar mais um salto nas semanas. Até que, de semana em semana, se esgote o tempo...

Estava nestas divagações quando me lembrei das seguintes palavras: "Uma vida humana é um continuum com origem no momento da fecundação...

Um embrião humano poderá não ser considerado pessoa mas ninguém pode negar que reúne em si toda a potencialidade para vir a ser pessoa... O embrião humano é um fim em si e tem uma dignidade intrínseca des­de a sua concepção, que torna inaceitável a sua instrumentalização como se de um objecto se tratasse. O embrião humano, sendo uma nova vida humana, não é propriedade de ninguém e neste ninguém incluem-se os pais".

 Para quem não souber de quem são tais ensinamentos, tenha-se presente que foram escritos pelo professor doutor Fernando Regateiro no "Manual de Genética Médica". Não era por ele ter sido (penso eu) favorável ao encerramento do SAP da Mealhada que ia esquecer as suas palavras. Quem o desmente? Sem interrupções... de raciocínio?

....

In: Correio de Coimbra,26Out06

Abílio Simões Duarte

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