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SEMINTENDES

Lendo, vê Semintendes...

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SEMINTENDES

30
Mai06

Igualdade de Género

lamire

Abílio Duarte Simões

in:Correio de Coimbra

18maio2006

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"Então não fala do tal reclame? Esse, verdadeiramente, é discriminató­rio e não devia ser descriminado".

Quem falava, lembrando o artigo da semana passada, sentia o vilipêndio. Referia-se a sugestivos anúncios publi­citários que têm passado nas televi­sões e também se ouvem na rádio.

Um é o do cavalheiro que devolve a mulher, após três dias de casamento. Outro o do cão que "roubou o lugar na cama e dormiu com a minha (do ho­mem do anúncio, já se vê...) mulher". E até o arrastou pelo quintal.

E se o carro é fiável, dá garantias, pode ser experimentado, pêlos vistos a mulher é deitada fora por nada disso oferecer. E se o cão é truculento, mari­alva, retintamente lusitano, a mulher é dócil, obediente, manipulada, duma passividade atroz, e não protesta... por não ter sido devidamente experi­mentada em tempo oportuno.

Claro está que quem defende "o di­reito à blasfémia" não vai reparar, mui­to menos surpreender-se, muito menos ainda escandalizar-se perante tal igno­mínia... masculina, feita a mais de me­tade da humanidade. Mas que importa tal indignidade?

Quando, um dia destes, (re)corneçar a campanha pró-aborto, neces­sariamente escudada na comiseração de (naturalmente) todos concordarem que as mulheres não devem ser incrimina­das por tal procedimento, quando essa campanha for, brevemente, retomada, não faltarão apelos ao respeito pela dignidade, abundarão desagravos por faltas de consideração, superabundarão certezas escandalizadas por atentados invisíveis...

Antes disso a dignidade é, porém, posta ao nível de cão e dele recebe tra­tos de polé?

Quem reage? Nem feministas, nem bloquistas, nem nenhum outro nem ne­nhuma outra ista qualquer? Será que o carro (e outros miseráveis dividendos capitalistas) tudo cilindra, tudo justifi­ca, tudo ultrapassa? Estarão os ani­mais de estimação sobrestimados para diminuir (ou anular) a dignidade que tanto se garante reclamar?

Alinhadas que estavam estas consi­derações deparei com uma entrevista de Anna Záborská, presidente da Co­missão Europeia dos Direitos da Mu­lher e da Igualdade dos Géneros, à re­vista Xis e do que disse transcrevo: "O maior problema que as mulheres têm de enfrentar é o facto de os direi­tos humanos não serem respeitados na parte que lhes toca, enquanto seres hu­manos". Claro que não consta o direito a ser equiparada a um carro... ou a um cão.

Valha uma novidade. "A problemá­tica da igualdade deve estar presente ao nível do nosso sistema de ensino", defendeu Jorge Lacão, secretário de Estado para a Presidência do Conselho de Ministros, garantindo que "a igual­dade de género passará a ser também acautelada na avaliação dos manuais escolares".

Já agora que não seja para alguns aprenderem a conduzir automóveis...

 

11
Mai06

Fim de Abril? Princípio de Maio!

lamire

Lembro-me de ter ouvido falar pela primeira vez do "rendimento mínimo para pessoas sem rendimentos". Foi num debate televisivo, em ple­no cavaquismo mas com algumas ideias guterrístas a começarem a afirmar-se. Nesse debate televisivo defendiam tal solução Bruto da Costa e Vítor Melícias. Na campanha que o levaria à primeira maioria Guterres de tal maneira argu­mentava sobre o assunto que era confrangedor ver a dificuldade com que lhe respondia o seu opositor directo, embora tenha de reconhecer-se que algumas críticas vieram a confirmar-se.

Os anos rodaram, o sistema emergiu do mun­do das propostas, vários governos passaram, a ideia foi vingando. Mesmo com reconhecidas fragilidades.

Não sei se com surpresa, falando sem cravo, em 25 de Abril, também para deputados que têm garantida a sobrevivência, com justificação de faltas... injustificadas, Cavaco Silva alertou para a urgência da inclusão, num país de exclusões!

E assinalou que temos um "Portugal a duas velocidades, em resultado das desigualdades so­ciais", reconhecendo que "ficámos muito aquém na concretização da ambição de uma sociedade com maior justiça social".

Do discurso presidencial discordaram os que tinham de discordar ("noblesse oblige", não verdade?), concordaram outros, uns com alívio (diz-se), outros contentes por "Cavaco roubar ao PS a bandeira social". Um director de jornal até escreveu um editorial sobre "uma segunda leitu­ra" do mesmo discurso!

No passado fim-de-semana dois jornais foram expressivamente diferentes. Nas respectivas sec­ções de "mais e menos", um atribuiu alta clas­sificação ao discurso presidencial e outro deu-Ihe nota bem negativa! Será o primeiro sinal de que nem os apelos em Abril têm eco e encontram unanimidade?

José Sócrates veio garantir. Tem de haver mu­danças no sistema da Segurança Social, para que seja sustentável. Sem essas mudanças é in­viável. E a desgraça está aí. Como os bárbaros à porta de Roma.

Vai aumentar o tempo de desconto? Entenda-se, vai prolongar o tempo de actividade laborai? Vai aumentar os descontos? Entenda-se, os be­neficiários vão ver diminuir o (já muito fugidio) ordenado mensal? Os mais castigados vão ser os menos favorecidos? Os reformados com baixas pensões vão ficar mais no fundo da escada? Os idosos, agora com mais esperança de vida, vão ficar economicamente mais débeis? As crianças desprotegidas vão continuar à mercê do que vai acontecendo? Os desempregados continuam su­jeitos a uma globalização cega? O interior vai continuar deserto e os subúrbios vão crescer, excluindo a qualidade de vida? E a radiografia não é completa...

E se os nossos políticos se entendessem e nos ajudassem a entender quais os caminhos inevitá­veis e aqueles que resultam do que cada um de­les quer impingir-nos?

Agora que "Cavaco já não é um perigo da direita" e "Sócrates não procura agradar à es­querda", estará aberto caminho para um enten­dimento que respeite cada um, atenda aos neces­sitados, elimine a opressão, não discrimine e, já agora, ajude os privilegiados a repararem no indispensável que os outros não têm?

É um voto do fim de Abril. No princípio de Maio.

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Abílio Duarte Simões

in: Correio de Coimbra, 4maio2006

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