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SEMINTENDES

Lendo, vê Semintendes...

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SEMINTENDES

03
Nov06

interromper... ou acabar de vez?

lamire

"Não me interrompa, por favor"! Quem é que já não ouviu palavras destas? E quem se exprime deste modo, reconhecendo-se interrompido, ou interrompida, fala assim porque... tenciona falar novamente.

"O jogo está interrompido"? Pois ficamos a aguardar que... prossiga dentro de algum tempo.

"Houve uma interrupção no trânsito". Se vamos no mesmo sentido, poderemos demorar mais tempo mas... há-de chegar a nossa vez de passar.

"O ministro da Economia carregou no interruptor e só vamos pagar seis por cento de aumento". Ficamos todos esclarecidos. Os aumentos (do que pagamos) não acabaram. Prosseguem dentro de momentos. Como um jogo que estava interrompido. Ou o trânsito que esteve momentaneamente parado.

"Temos de apertar o cinto ininterruptamente"? Apenas enquanto o cinto aguentar. Mesmo que o dono já tal não consiga.

E vamos ao raciocínio que se pretende propor. Sem interrupções. Mas não sem, antes, reparar­mos que a linguagem portuguesa está (estará) cada vez mais... corrompida. Embalado nas delícias da terra de sua majestade e embebido em russopetrolífero canto, José Mourinho entra em milionário reclame, a anunciar casas para "alugar".

Quando se pensava que há casas para "arrendar". E um anúncio radiofónico fala do advérbio "a partir de" (esclareça-se que a frase é bem pronunciada e seja permitido perguntar se sabe escrevê-la quem fala... de advérbios destes).

Quer agora o nosso não interrompido Governo que nos pronunciemos sobre a legalidade da "interrupção voluntária da gravidez, por decisão da mulher...".

Há na pergunta coisas surpreendentes.

"Voluntária", diz-se. Claro. Admitiam que fosse involuntária? Se não admitem por que escrevem assim? Por decisão da mulher? Então não se tem defendido que a mulher é a única responsável pelo que se passa consigo? E vão os outros decidir sobre o modo de ela proceder? E o que quer dizer interrupção? Não tem o mesmo sentido para todos? Os dicionários estão errados? Andam uns a interromper raciocínios e outros a acabar... com vidas, dizendo que se trata, apenas, de interrupção? Custava muito ser claro?

Não era muito mais democrático perguntar, por exemplo: "Concorda que o casal (ou a mulher, se não houver casal) decida, sem consequências penais, acabar com o amontoado de células indiferenciadas que a mulher traz dentro de si, em qualquer momento da gravidez?"

Ganhava a clareza de linguagem e ganhava-se tempo. Pois, se ganhar o sim ao aborto, o próximo referendo não poderá ser proposto pêlos adeptos do não. Mas será para dar mais um salto nas semanas. Até que, de semana em semana, se esgote o tempo...

Estava nestas divagações quando me lembrei das seguintes palavras: "Uma vida humana é um continuum com origem no momento da fecundação...

Um embrião humano poderá não ser considerado pessoa mas ninguém pode negar que reúne em si toda a potencialidade para vir a ser pessoa... O embrião humano é um fim em si e tem uma dignidade intrínseca des­de a sua concepção, que torna inaceitável a sua instrumentalização como se de um objecto se tratasse. O embrião humano, sendo uma nova vida humana, não é propriedade de ninguém e neste ninguém incluem-se os pais".

 Para quem não souber de quem são tais ensinamentos, tenha-se presente que foram escritos pelo professor doutor Fernando Regateiro no "Manual de Genética Médica". Não era por ele ter sido (penso eu) favorável ao encerramento do SAP da Mealhada que ia esquecer as suas palavras. Quem o desmente? Sem interrupções... de raciocínio?

....

In: Correio de Coimbra,26Out06

Abílio Simões Duarte

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