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SEMINTENDES

Lendo, vê Semintendes...

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SEMINTENDES

28
Fev06

HISTÓRIAS DO CARNAVAL EM COIMBRA

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“In illo tempore” a quadra carnavalesca no Seminário de Coimbra incluía a “Adoração das 40 horas”.
Assim, ao longo de 40 horas consecutivas, o Santíssimo, exposto na Igreja do Seminário, tinha uma “guarda de honra”. Os sucessivos turnos dos alunos sucediam-se dia e noite em ambiente de adoração e recolhimento.
As noites porém eram longas e as madrugadas custavam a chegar. Há já algum tempo a ideia andava a fervilhar, mas ainda não tinha surgido a ocasião mais oportuna.
Um reverendo, capelão de uma comunidade religiosa, que possivelmente vivia nos arredores do Seminário, deixava estacionado no jardins do dito o seu belo e estimado carrinho amarelo – era, nem mais nem menos, que um Ford Anglia, talvez posteriormente aproveitado pelo realizador dos filmes do Harry Potter.
O reverendo aparecia pela manhã, bem cedinho; limpava cuidadosamente o pára-brisas e, envolto na sua negra capa, lá partia para o serviço religiosa. Havia que andar ligeirinho que a regra do Convento não tinha espera.
Cumprida a missão matinal, o carrinho lá voltava ao seu poiso e ali repousava, bem sossegadinho, esperando, quedo e mudo, o regresso do seu dono na manhã seguinte. Assim passava a roda dos dias e dos anos nesta pasmaceira pascácia.
Os outros via-os ele, logo pela manhã, correr velozes pelas ruas da cidade, mas, ao longo do dia, apenas lhe chegava o ruído distante dos motores, coado pelas altas e sólidas paredes dos jardins do Seminário. Aquele estado depressivo em que o carrinho tinha entrado ia-se acentuando de dia para dia. Havia já quem falasse em consulta psiquiátrica, mas não formigavam na época, como hoje, os tais doutores.
Mas – dizia – a ideia já andava a fervilhar há muito naquelas cabecinhas juvenis. Faltava a oportunidade.
Pareceu que a conjuntura carnavalesca reunia as condições ideais. Libertar o carrinho das grilhetas, daqueles muros e daquelas grades fechadas por um enorme e negro portão de ferro.
Pela calada da noite, cumprido o preceito da hora de adoração, deu-se início ao acto libertador. Tinha chegado a hora!
Um grupo de “conjurados” dirige-se resolutamente para os jardins em direcção ao carrinho amarelo. O raiar da manhã ainda vinha longe e, por isso, o entorpecido carrinho, acordado pelo ruído das sotainas negras que se movimentavam na escuridão da noite, assusta-se.
“- Não temas! Chegou a tua hora!” – sussurrou um dos “conjurados”.
Eis que a silenciosa turba avança e rodeia o desventurado carrinho. Cuidadosamente pegam-lhe ao colo e, muito a custo, levam-no bem para o centro daquele lago sem água, onde se cruza a rua que vem do lado do portão para portaria do Seminário com a rua perpendicular que vem do lado da Gráfica. Eis o carrinho ali, naquele pequeno cabeço, bem à vista de quem ia entrando.
Ao raiar da manhã lá foram chegando as santas mulheres para a missa matinal e, um pouco depois, chega o amo que maquinalmente se dirige para o poiso habitual.
Mas oh desilusão!
O bichinho, como num sonho premonitório dos filmes do Harry Potter, tinha levantado voo. Nem quer acreditar. Esfrega os olhos, mas a triste realidade está ali, nua e crua, à sua frente. O Ford Anglia tinha desaparecido misteriosamente. Olha em redor, mas o Sol da manhã ofusca-lhe a vista. Retrocede desalentado.
Mas ó prodígio dos prodígios, de repente olha e vê, lá bem no alto, o carrinho que para lá galgara durante a noite.
Aproxima-se entre o ansioso e receoso, mas é ele, mesmo ele, o seu querido carrinho. Apalpa-o para se certificar.
A sensação táctil não o engana.
Contorna-o e, subitamente, depara-se com um letreiro: “Dá-se, é só levá-lo”.
......
Luis Carlos (9.064) (28-02-2006 - 06:01:02 PM)
27
Fev06

Centenas de pessoas participaram na cerimónia fúnebre: Faleceu antiga vereadora Natércia Crisanto.

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NaterciaCrisanto.JPGEsposa do prof:José Roque Crisanto

Centenas de pessoas participaram, domingo, 26, nas cerimónias fúnebres da antiga vereadora do Partido Socialista na Câmara Municipal da Figueira Natércia Crisanto falecida, sábado, 25, aos 58 anos, vítima de doença prolongada.

Natércia Crisanto, natural de Luanda, Angola, nasceu em 1947, licenciou-se pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo um longo historial como docente de História, autarca e dirigente associativa. A socialista é considerada uma “cidadã exemplar e de coragem”. “O PS fica a dever muito a esta grande socialista, uma pessoa de combate pelas causas e sempre entusiasmada. Foi uma cidadã exemplar com grande sentido de serviço público”, disse, ao Correio da Figueira, Victor Baptista, presidente da Federação Distrital de Coimbra do PS.

O vereador socialista na câmara da Figueira, Victor Sarmento, recorda uma pessoa que foi o “exemplo de uma forte referência para o partido e para o desenvolvimento da cidade”. “Os sentimentos que temos hoje são um misto de tristeza, pesar e dor, mas também de gratidão, pela forma corajosa como se dedicou ao PS e à Figueira da Foz”, referiu Sarmento.

Para Duarte Silva, presidente da câmara da Figueira, a cidade perdeu uma cidad㠓lutadora”. “É um exemplo de uma pessoa lutadora, dedicada aos outros, ao associativismo, à política e que muito contribuiu para o desenvolvimento da democracia e do concelho. É com enorme pena que deixamos de puder contar com ela”, disse o autarca, que decretou dois dias de luto municipal, em memória da antiga autarca.

Natércia Crisanto foi mandatária concelhia nas duas candidaturas do Presidente Jorge Sampaio à Presidência da República, em 1996 e 2001, e vereadora da Câmara Municipal da Figueira da Foz entre 1998 e 2005. Foi ainda fundadora da Associação Viver em Alegria que tem vindo a desempenhar uma papel fundamental junto de grupos sociais desfavorecidos, na área da formação e na assistência, por exemplo, a imigrantes.
Desenvolveu um trabalho “notável” na área cultural, social e associativa. Actualmente, desempenhava o cargo de deputada municipal da Figueira da Foz, pelo PS.
....
in:www.figueira.net (http://correiodafigueira.blogspot.com/)
23
Fev06

D. ALBERTO COSME DO AMARAL:

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DalbertoCosmeAmaral.jpg«D. Alberto Cosme do Amaral nasceu na freguesia de Touro, Vila Nova de Paiva, diocese de Lamego, em 12 de Outubro de 1916; faleceu uns dias antes de fazer 89 anos. Foi ordenado sacerdote a 13 de Agosto de 1939. Nomeado bispo auxiliar do Porto em 8 de Julho de 1964, passou a auxiliar de Coimbra em 1969». Após a morte de D. Frei Francisco Rendeiro, em 19 de Maio de 1971, passou a Vigário Capitular da Diocese de Coimbra, antes de ser transferido para a Diocese de Leiria como Bispo residencial «onde exerceu o seu ministério episcopal de 1972 a 1993. Por duas vezes recebeu João Paulo II na Cova da Iria, em 1982 e em 1991. Em 1993, passou a Bispo Emérito, ficando a residir no Santuário de Fátima. Dentro da sua disponibilidade pastoral, que foi diminuindo, privilegiava sempre o sacramento da reconciliação e o atendimento dos sacerdotes.
D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, comentou que D. Alberto, na sua simplicidade, testemunhou permanentemente uma vida que pautava em termos de interpelação para a santidade, anunciando os valores que salvam a humanidade. D. Carlos Azevedo, Secretário da CEP, lembrou D. Alberto como um homem simples, afável e, acima de tudo, de uma grande serenidade».
Por mim recordo-o como um homem simples, afável, de uma ternura imensa, uma voz de veludo, pausada, num Retiro Espiritual no Seminário da Figueira da Foz.
Nesse dia tenho a certeza que, entre o mais, disse que era muito humilde «a casita da Nazaré em que viveu aquela criancinha». Nunca mais esqueci esta frase; quase assegurava que se a tivesse gravado, não a teria agora reescrito do modo diverso.
E disse mais:
«Quando aquele sacerdote saiu da casa de banho pública em Fátima, e já eu lavava as mãos,a senhora ali presente deu-lhe um bocado de sabão, que a mim não havia dado. Isso levou-me a perguntar-lhe na minha simplicidade: “porque deu sabão àquele senhor e não me deu também a mim?”. A resposta saiu rápida: “mas o senhor padre não pediu...”
Pois é, precisamos de pedir; precisamos de rezar para que Deus nos ouça...»
As palavras não terão sido precisamente estas, mas foi algo de muito parecido que alguns de nós ouviram a D. Alberto em finais de 1969 ou 1970 dentro da Capela do Seminário da Imaculada Conceição naquele Retiro Espiritual por ele orientado, curiosamente o único de que guardo alguma recordação precisa».
Nunca mais esqueci D. Albert; tenho muito presente – é curioso como o LS o referiu também – a sua mão e o seu anel perto dos meus olhos, como que a marcar-me para sempre; e recordo muito bem ainda hoje os seus afáveis diminutivos, «casita da Nazaré», acima de todos.
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enviado por:
ams (22-02-2006 - 10:34:54 PM)/forum

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Dom Alberto Cosme do Amaral (1916-2005), bispo emérito de Leiria-Fátima, faleceu no dia 7 de Outubro 2005, pelas 19 horas, no Hospital de S. André, em Leiria, com 88 anos.
Hoje, dia 10, o corpo saiu da Sé de Leiria, pelas 9h30, em direcção ao Santuário de Fátima, onde foram celebradas as exéquias solenes, na basílica, às 11 horas. Por vontade do Senhor Dom Alberto, o seu corpo ficou tumulado na capela-mor da basílica do Santuário de Fátima.
Informado da morte de D. Alberto Cosme do Amaral, bispo emérito de Leiria-Fátima, Sua Santidade o Papa enviou ao actual bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, uma mensagem na qual “eleva sufrágios pelo eterno descanso desde zeloso e fiel pastor que procurou com bondosa humanidade levar Cristo aos homens sob o olhar de Maria, fazendo-se arauto incansável e ardente da mensagem que ecoa dessa terra bendita para o mundo inteiro”.

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in:http://www.santuario-fatima.pt/portal/index.php?id=1766

18
Fev06

A pastorinha Lúcia vai amanhã deixar a Diocese de Coimbra

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irma_lucia_dr.jpgVolto hoje aqui, porque estou triste e estou feliz e necessitava partilhar convosco estes sentimentos contraditórios.
Eu não sou da Diocese de Coimbra, mas gostei que me adoptásseis como vosso protector naquela estratégica prefeitura do Seminário da Imaculada Conceição, que muitos de vós frequentastes. Considero-me então também um dos vossos.
Talvez eu não deva considerar-me também da Diocese de Leiria-Fátima, mas sabeis que foi por ali que procurei ajudar Portugal, lutando abnegadamente pela independência. E, por conseguinte, acabo por me considerar também um pouco dali, porque ali deixei muito do meu suor.
Pois é por isso mesmo que estou triste e feliz ao mesmo tempo; triste porque a pastorinha Lúcia vai amanhã deixar a Diocese de Coimbra, que já começa a sentir saudades; feliz porque a Irmã Lúcia vai repousar na Cova da Iria, ao lado dos seus primitos, Beatos Jacinta e Francisco, antes de – como espero – subir num curto prazo ao altar dos Bem-aventurados, onde me colocaram há tantos anos.
Mas, não queria falar-vos só de Lúcia; ainda mais - porque falais de tanta coisa, mas nunca tocastes este ponto – queria recordar-vos também que Lúcia vai ser sepultada bem perto de D. Alberto Cosme do Amaral, que foi também um vosso Bispo, aliás, um vosso humilde Bispo, que muitas vezes vos visitou no Seminário da Imaculada Conceição, antes de – de forma tão merecida – ter sido precisamente o Bispo da Diocese em que Nossa Senhora decidiu visitar os três pastorinhos.
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BEATO.NUNO (18-02-2006 - 09:44:28 PM) in: Forum Ex
16
Fev06

Árvores e florestas

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Se há assunto de que não sei falar (e disso não sinto a menor pena) é o das opas (entenda-se oferta pública de aquisição). E (também) por isso não há, para mim, opas hostis. São todas pacíficas. Mesmo a opa (leia-se "ó, pá") de Belmiro a dizer que era "massa a mais". Pobre do homem, se ele o diz...
Mas há outras opas. Laicas, republicanas e jacobinas em que querem ver enrodilhados crentes, crédulos, sugestionáveis, influenciáveis, vítimas de crendices, papalvos e todos os outros, se algum ficou de fora.
Por exemplo querem convencer-nos que quem considera um erro os (infelizmente célebres) cartoons de Maomé está a favor da destruição, da violência, da vingança, da guerra da mourama à civilização ocidental. Quando o que estava em causa era a oportunidade da brincadeira, a razoabilidade da ideia. E surgem os mais desvaira­dos argumentos. A um cartunista do nosso burgo ouvi, no sábado, defendendo a liberdade artística dos seus pares, proclamar um definitivo julgamento histórico-arcaico-filosófico: "O Cristianismo andou, durante séculos, a impedir que as pessoas se rissem". Não dará vontade de rir, mesmo com todas as pedras cartunadas que entenda lançar aos cristãos?
 
Mas é para mim inquestionável que algumas vantagens resultaram de tudo isto. E sem que manifestantes, exaltados e incendiários o pretendessem.
Assim se reparou melhor na importância de sabermos ser livres, no modo como alguns respeitam a nossa liberdade, na (in)capacidade de aceitar ser criticado, na violência das respostas, na titubeante  atitude de alguns políticos, ministros incluídos, no oportunismo para o qual há sempre gente disponível, na falta de clareza de certas reacções, no aproveitamento de tudo o que apareça.
Hoje, porém, só queria falar de caseiríssimas situações e que com o caso nada têm a ver. Repararam na criatividade dos nossos políticos, a propósito do (não explicado) interesse de Gates por Portugal? Para um, o país pôs-se de cócoras, o que é um perigo, naturalmente. Para outro portou-se com provincianismo saloio. A este respondeu um terceiro que tais palavras eram dum paroquianismo inqualificável!
E há mais. O presidente da Câmara do Porto e a ministra da Cultura andam há um ano a esburacar argumentos por causa do túnel de Ceuta... na cidade invicta. Há dias o problema foi resolvido. Chegaram a acordo. As obras do túnel vão ser concluídas, o Governo nomeia para a Casa da Música quem Rio não queria (não sou o primeiro a fazer esta ligação) e os carros vão passar à louca velocidade de... trinta quilómetros à hora. É caso para perguntar se ninguém faz um cartoon lento, de vagar, devagarinho.
E sem pressas, nem túneis, vamos a outra, deixando de parte os atestados médicos para deputados (felizmente) sadios. Um político tem de ser sujeito à "recolha de autógrafos", para ser analisada a sua caligrafia? O mesmo político aparece de braço ao peito, bem engessado. Depois dizem que o gesso é todo branco...
Com tais roupagens valha-nos a opa de Belmiro. Ou o apito que é do povo.
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Abílio Duarte Simões
In:Correio de Coimbra
16fev06
15
Fev06

Sobre o filme Munique

lamire
PARA VOS AGUÇAR O APETITE!
Sobre o filme Munique uma crítica brasileira escreveu:
" Munique é o filme mais corajoso da carreira de Steven Spielberg. Se em Império do Sol, A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan ele contou histórias que, ambientadas durante a Segunda Guerra Mundial, nos forneciam personagens e situações com as quais podíamos nos identificar facilmente, desta vez o cineasta faz questão de pisar em campo minado, fugindo de uma postura moral claramente preta ou branca e mergulhando na área acinzentada que, afinal de contas, abrange a maior parte dos conflitos e atitudes da raça humana. Seria muito fácil para Spielberg, como 'diretor judeu', assinar em baixo de todas as acções de Israel, mas, para seu crédito, não é isto que interessa a ele, mas sim retratar a situação extremamente complexa envolvendo a eterna luta entre israelenses e árabes pela ocupação da Palestina. Com isso, o cineasta cria um trabalho moralmente denso e politicamente ambicioso que, ao final de suas quase três horas de duração, faz com que o espectador saia da sala angustiado e emocionalmente esgotado. Exactamente como deveria ser, considerando-se o assunto abordado.
(...)
E esta é, aliás, uma das principais discussões propostas por Munique: a partir de que instante uma acção com 'legitimidade' moral passa a ser condenável? Ou não há violência que seja justificável? E mais: se cada golpe desferido pelo inimigo for retribuído em intensidade maior, como este círculo vicioso poderá chegar ao fim? Aliás, não é verdade que Israel já bombardeara seus inimigos, causando a morte até mesmo de civis inocentes? Neste sentido, o massacre de Munique não poderia ser encarado já como uma retaliação? A verdade é que isso não interessa: a partir do momento em que o ciclo de violência tem início (algo que um personagem compara a um 'diálogo'), torna-se quase impossível interrompê-lo – e é por isso que o título do filme surge em meio aos nomes de dezenas de outras cidades: em Munique ocorreu apenas um capítulo de uma história que já se passou (e ainda vai se passar) em várias localizações – e o plano final do filme é perfeito ao exibir um símbolo indiscutível da continuidade desta brutalidade."
(...)
Mas o elemento mais nobre de Munique é seu esforço em tentar retratar as motivações dos activistas palestinos: em vez de tratá-los como terroristas frios e cruéis, Spielberg inclui uma cena que, apesar de implausível, serve para colocar Avner frente a frente com um integrante da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Na bela conversa que se segue, podemos compreender como a busca por um lar é incentivo suficiente para manter esta guerra sangrenta por décadas e décadas – e como, no fundo, reflecte a própria trajectória pós-diáspora dos judeus até a fundação de Israel.
Protagonizado por um homem em conflito e cuja psique é destruída pela experiência de passar vários anos planejando a morte de outros seres humanos, Munique é um filme emocionalmente insatisfatório, mesmo frustrante. Mas, ao contrário do que podemos pensar inicialmente, esta frustração não é provocada porque não conseguimos estabelecer vínculos emocionais com o que está sendo narrado na tela, mas sim porque, em vez de nos identificarmos com o herói, de nos satisfazermos (ou não) com seus feitos, ficamos atordoados, angustiados e desesperançosos com relação ao mundo e à possível resolução de seus conflitos estúpidos e sangrentos.
Em outras palavras: o longa desperta, sim, vários sentimentos. A diferença é que estes não são os que normalmente poderíamos esperar como consequência de um filme de Steven Spielberg. "
.....
Zé Vieira (15-02-2006 - 11:10:12 PM) in:Forum EX
14
Fev06

senhor Zé

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jdiasilva.jpgEntre os meus colegas de infortúnio, havia o Diogo, o Agostinho, o senhor António, o senhor Manel.
Quando entrei, alguém me perguntou:
- Como se chama?
- Zé.
- Mas que nome bonito, senhor Zé.
Eu sou, passei a ser o senhor Zé (senhor porque tenho já uma certa idade; se fosse jovem era o Zé).
Eu sou o (artigo definido) senhor Zé (nome de baptismo).
Finalmente libertaram-me desse apêndice desumanizante "senhor doutor", dessa doença gravíssima que atingiu a nossa sociedade: a doutorite.
Mesmo depois de me terem perguntado:
- E o que faz(ia), senhor Zé?
"Mau...", pensei eu. Mas lá falei das aulas na Química, de investigador da Química Teórica.
E a resposta veio tão refrescante:
- Ah! Deve ser muito bonito tudo isso, não é senhor Zé?
Continuei a ser o senhor Zé.
Que bom.

Ainda recordo um episódio da minha juventude.
Quando cheguei à minha aldeia, ouvi um dos anciãos dizer-me:
- Parabéns, senhor doutor!!!!!
- Ó ti António, então já não sou o Zézito?
- Ah.... Podemos continuar-te a chamar Zézito!?
- Mas eu sou o Zézito.

Hoje só não sou o Zézito, porque as barbas esbranquiçadas me deviam ter tornado o senhor Zé.

Que tristeza de sociedade a nossa, onde o peso do doutor é tão grande quanto é pequena a dimensão da dignidade da pessoa, de todas as pessoas, cada uma delas "única e irrepetível"!
...
Zé Dias, in Blog Fé e Compromisso, 13Fev2006
06
Fev06

A questão das caricaturas

lamire

1.

Boa noite!

Vejo que a questão das caricaturas motivou mais intervenções! Sinal que somos capazes de diálogo! E este - DIÁLOGO - tem de ser precisamente uma das chaves do nosso tempo.

 2.

Eu não sei se é fácil, creio que não é mesmo...discutir estas questões sem termos em conta a nossa posição etnocêntrica. Ou seja...será que somos capazes de discutir tudo isto sem colocarmos a nossa ocidental culturazinha no centro?

3.

Eu (como todos vós certamente!) acredito que a civilização ocidental é a mais perfeita e a mais disposta ao aperfeiçoamento...de acordo aliás com esse grande filósofo chamado Karl Popper. Mas às vezes dou comigo a pensar que olhamos muito facilmente para a barbárie de algumas situações provocadas pelo fundamentalismo islâmico...mas esquecemos as barbaridades históricas ocidentais. Será preciso recordá-las?

4.

Preocupamo-nos muito, e ainda bem, com aquele mundo árabe onde milhões de mulheres não têm os direitos mais banais se tivermos em conta os nossos direitos ocidentais...Preocupamo-nos, e ainda bem, com aquelas turbas iradas e armadas que vociferam contra George Bush e contra a civilização ocidental...E agora contra os Nórdicos... Preocupamo-nos com tantas e tantas outras coisas praticadas e toleradas num civilização que continua a ter na Guerra Santa contra os infiéis um dos seus motivos máximos de mobilização.

5.

Mas será que no ocidente e noutras partes do mundo nada se passa? Tudo corre bem? Morrem milhões de crianças à fome em África e alguns oferecem-lhe comida de cão! A Sida continua a propagar-se assustadoramente por todo o Mundo e A Igreja Católica apostólica romana continuar a achar que o preservativo não pode ser usado! O meu relatório, se a isto que escrevo se pode chamar relatório...podia continuar!

6.

Qualquer que seja a nossa posição sobre estes assuntos há algumas coisas que não podemos esquecer:

 a) Somos cada vez mais um mundo multicultural e somos hoje mais do que nunca obrigados ao convívio multicultural. (Nas grandes cidades da Europa temos cada vez mais culturas diferentes, povos e etnias diferentes a conviver no mesmo espaço e as coisas nem sempre são fáceis. Basta recordar os recentes acontecimentos de Paris).

b) Apesar de admitirmos que somos sociedade multicultural nem sempre somos capazes de ter relações interculturais. (Basta recordar o tal etnocentrismo que na maior parte dos casos é responsável por algum racismo, alguma xenofobia e por vezes por algum chauvinismo (essa idiotice do patriotismo exagerado!)

c) Só uma atitude interculturalista nos poderá ajudar a compreender a humanidade no seu conjunto porque nos leva:

1. a compreender a natureza pluralista do nosso tempo e do nosso mundo;

2. a promover o verdadeiro diálogo entre as culturas;

3. a compreender a complexidade e a riqueza das diferentes culturas.

d) Este diálogo intercultural é a grande exigência do nosso tempo e a única estratégia que pode levar os seres humanos a encontrar as respostas aos grandes desafios do nosso tempo.

Hoje temos se ser capazes de encontrar um conjunto de valores morais partilhados:

- Defesa dos Direitos Humanos (A grande cartilha da DHDH)

- Defesa da liberdade, da igualdade e da solidariedade (No fundo a trilogia iluminista da Revolução Francesa sendo hoje a solidariedade o novo nome da fraternidade...)

- Respeito pelas (pequenas e grandes) diferenças culturais.

- Promoção de uma atitude permanente dialogante (olhando mais para o que nos une do que para o que nos separa, como já defendia o ecuménico João XXIII)

- Promoção de uma tolerância activa (onde o Bom Senso seja o guia fundamental).

PODEM CHAMAR-ME LÍRICO!

Mas eu sou por natureza um optimista e um sonhador. E como professor de Filosofia são estes valores que eu procuro partilhar com os adolescentes meus alunos! E já agora convosco...porque vocês merecem o tempo que eu passo a escrever estas coisas...certamente nem sempre bem escritas...mas que me saiem assim ao correr das teclas.

..........

J Vieira Lourenço (06-02-2006 - 12:29:40 AM)

04
Fev06

Os críticos de Bento XVI

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"Antigamente" dizia-se que "Deus escolhia sempre o Papa necessário para cada momento histórico". E como as justificações da afirmação eram feitas "a posteriori" até nem era difícil encontrá-las! Será que está, agora, a acontecer o contrário?
Depois do que os críticos que até o são antes de o serem disseram de Ratzinger, depois das críticas à escolha do novo pontífice, depois dos desencantos, sobretudo laicos, perante Bento XVI, esperavam-se críticas, igualmente contundentes, sarcásticas, desrespeitosas até, à sua primeira encíclica, nem que contrariassem profundamente o tema que aí se propõe.
Nada disso parece ter acontecido! Ainda é cedo, ainda não houve tempo para análise aprofundada, ainda podem surgir essas críticas violentas? Tem sempre de contar-se com essa possibilidade mas... a primeira reacção ou é de silêncio (que também não é bom!) ou algumas observações menos entusiastas surgem de dentro, ou quase.
Como no caso de Hans Kung pois o antigo colega de Ratzinger limitou-se a desejar que haja consequências corajosas... nas estruturas da Igreja! E quem não desejará que haja essas consequências? Só quem é adepto das desastrosas!
Deixando para os entendidos a análise saudavelmente crítica da nova encíclica, repare-se, por exemplo, no número 25: "A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus, celebração dos Sacramentos, serviço da caridade. São deveres que mutuamente se reclamam, não podendo um ser separado dos outros.
Para a Igreja a caridade não é uma espécie de assistência social que pudesse mesmo deixar-se a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência".
No número anterior já tinha lembrado que as más desculpas são justificações... de sempre, não foram inventadas hoje. Bem diferente é a proposta: "Toda a actividade da Igreja é manifestação dum amor que procura o bem integral do ser humano... O sonho (marxista) da panaceia de, com a colectivização dos meios de produção, tudo caminhar melhor, desvaneceu-se... No diálogo entre todos os que seriamente se preocupam com a pessoa e o seu mundo... a caridade será sempre necessária, mesmo na sociedade mais justa".
No domingo passado os praticantes católicos da Diocese de Coimbra foram convidados a colaborar, com o seu dinheiro, na tarefa diocesana de atender aos padres que não recebem das comunidades que servem o mínimo indispensável para um mínimo de dignidade.
As portas das mesmas igrejas grupos de jovens atentos, disponíveis, generosos, solicitavam uma oferta para "ajudar os leprosos", pois esse era o dia particularmente proposto para tal convite. Em bastantes das mesmas igrejas, numa espécie de concorrência, anónimos cidadãos estrangeiros, solicitavam "esmola para uma família, com cinco filhos, sem comer, um doente, outro a necessitar de urgente operação…”.
Entretanto, a vaga de frio desse dia fez que "a Câmara de Lisboa disponibilizasse um espaço onde os sem-abrigo pudessem acolher-se e quem quisesse fizesse chegar cobertores" e, pela mesma razão, "a Câmara e o Metropolitano tinham acordado (entenda-se chegado a acordo!) para que três estações ficassem abertas durante a noite".
Já eu tinha feito um raciocínio crítico quando vi o presidente da Câmara a dizer que "tal preocupação não era factual mas permanente pois para o Verão teriam de ser tomadas outras medidas, de acordo com as circunstâncias". Pêlos vistos na Primavera e no Outono não há problemas...
Ainda no mesmo dia noticiava o "Público": "Pagava 28 euros de renda à câmara e vestia Fátima Lopes e é de luxo o elenco de advogados que defende este e outros arguidos". Finalmente, no mesmo dia, um outro jovem protestava: "Na minha terra há gente que trabalhou e descontou toda a vida a receber trinta contos por mês e a precisar de quarenta para a farmácia e há gente que nunca trabalhou, que não trabalha, nem precisa, pois com o rendimento mínimo (nem reparou que o nome já não é este!), recebe mais do dobro".
"Os leigos não podem abdicar da múltipla e variada acção económica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum... A caridade deve animar sempre a existência dos fiéis leigos e, consequente-mente, também a sua actividade política vivida como caridade social".
"A caridade não é proselitismo", lembra Bento XVI, pois "o amor é gratuito e não é realizado para outros fins".
Com alguns dos casos que apontei atrevi-me a partilhar a reflexão de quem acrescenta "proselitismo é evidente que não mas também não podemos proceder com angelismos.
E, às vezes, não sabemos onde deve terminar a nossa participação pois pode estar a começar a exploração, mesmo com ar mais angélico do mundo. E não encontramos resposta para tudo. Nem podemos dispor sempre de dinheiro".
"Só se contribui para um mundo melhor fazendo o bem agora, com paixão, em todo o lado onde for possível" mas... escreve igualmente Bento XVI, "o vilipêndio do amor é vilipêndio de Deus e da pessoa". Claro que não estava a referir-se a estes enganos...
Já agora quem ler cuidadosamente a encíclica faça favor de não reparar nalguns erros da tradução portuguesa. Só como exemplo, "o Oitocentos", no numero 26, será o século XIX?... E, no número 27, "aqueles que se preocupam seriamente do homem e do seu mundo" não devem, antes, preocupar-se com o homem e com o seu mundo? E claro que aquele homem deve ser... homem e mulher.
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Abílio Duarte Simões
In: Correio de Coimbra, 02fev2006
04
Fev06

Cultura ecuménica e identidade religiosa

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manuel augusto rodrigues.jpgTodos os anos a Semana da Unidade dos Cristãos oferece o ensejo para uma reflexão sobre o tema das relações entre os crentes da fé em Cristo transmitida pela mesma Bíblia. Esta, sendo património comum de todos, pode ser considerada a ponte de ligação entre as diversas confissões cristãs.
E é também a partir dela que se estendem os horizontes para outras religiões não cristãs, os ateus e os agnósticos.
O actual papa Bento XVI tem manifestado uma preocupação grande pelo diálogo ecuménico, em particular com a Igreja Anglicana e a Ortodoxia, demonstrando assim o seu empenho pela aproximação de todos quantos recorrem à mesma fonte que ao longo dos séculos saciou o espírito de muitos.
A Semana da Unidade deste ano serve para lançar a 3." Assembleia Ecuménica Europeia (AEE3), convocada pela Conferência das Igrejas Cristãs Europeias (CEC) - que reúne todas as confissões cristãs excepto a católica, e o Conselho das Conferências Episcopais Católicas da Europa (CCEE). Este evento culminará em Sibiu (Roménia) de 4 a 8 de Setembro de 2007.
A literatura sobre o ecumenismo tem abundado e as análises que se fazem aprofundam aspectos muito diferentes, especialmente depois do Vaticano II.
A título de exemplo, lembramos três estudos importantes: um artigo aparecido numa revista francesa em que os seus autores, bons conhecedores do problema do ecumenismo, um padre de S. Sulpício e um pastor protestante, falam da "Declaração de paz em países de ecumenismo"; Peter Neuner, professor de teologia dogmática e ecuménica na Universidade de Munique e autor de vários livros e estudos, chama a atenção no seu último livro «Teologia ecuménica.
A busca da unidade das Igrejas cristãs» para aspectos relevantes acerca da história do movimento ecuménico e dos principais problemas teológicos que envolve; Thomas Sõding, professor de Teologia Bíblica na Universidade de Würburg, escreve acerca da actual discussão ecuménica; já em 2003, o cardeal Walter Kasper falava da Igreja Católica e das suas relações ecuménicas e escrevia que não há nenhuma razão para uma resignação.
A exposição sobre "Torah, Bíblia, Corão" (actualmente no Museu do Eouvre) e as que as dioceses de Espanha têm realizado sob o lema «Lãs edades dei hombre» são manifestações culturais de enorme alcance que muito têm contribuído igualmente para uma melhor compreensão do intercâmbio inter-religioso.
Do conjunto dos trabalhos referidos, podemos colher algumas ideias de grande interesse para o momento presente. Antes de mais, referem o que tem sido feito e chamam a atenção para uma série de questões que a todos se colocam entre consensos e controvérsias. Sem falar de outras separações anteriores, a mais conhecida foi a do cisma do Oriente (1054) que dividiu a Igreja de Constantinopla da Roma, à qual se seguiu a Reforma de Eutero. Depois do absolutismo confessional, a divisão dos cristãos arrastou consigo consequências em todos os domínios da vida: religião, política, sociedade, cultura, etc.
A demarcação era doutrinal e territorial. Isto impedia os bons resultados das tentativas realizadas. Eeibniz, Spinoza e Bossuet procuraram fazer ver que o concílio de Trento não foi como ecuménico e tentaram a unidade das Igrejas através dum concílio de união. Só nos sécs. XIX-XX é que o ecumenismo tomou as dimensões que hoje conhecemos.
Com frequência se afirma que o ecumenismo atravessa uma fase de dúvida e de cepticismo.
Os muitos documentos aprovados e aceites e os encontros promovidos não geraram aquela aproximação que parecia óbvia, constatando-se a falta de receptividade por parte dos adeptos das comunidades envolvidas. Ela não aparece, porque a procura ecuménica pode parecer uma agressão, como se se pretendesse suprimir tradições multisseculares.
No fundo, há uma falta de cultura ecuménica que tem causas diversas, sendo uma delas a falta de conhecimento das outras confissões (ou religiões e atitudes).
Seguindo o pensamento dos especialistas mencionados -aliás na linha do Vaticano II e de outros textos eclesiásticos - o que antes de mais se deve procurar é a identidade própria de cada confissão e criar uma atitude de compreensão e conhecimento dos outros.
Da identidade passar-se-ia à autenticidade, da discussão teórica a uma vivência impregnada de espiritualidade.
Esconde-se o essencial da fé por detrás de pormenores e os dogmas aparecem como obstáculos intransponíveis, como se fossem eles a gerar a identidade das diversas Igrejas. Daí surgir o medo de se perderem direitos, de se enveredar pela dogmatização (espécie de fundamentalismo), ou então no pólo oposto pelo relativismo universal.
A catequese, o estudo e a reflexão são vias propedêuticas para o ecumenismo que tem na vivência da fé e na prática uma função pedagógica de relevo. O apego a tradições sem base válida, o receio de perder a identidade e o proselitismo funcionam como barreiras impeditivas de ultrapassar o diálogo e a comunhão ecuménica.
Daí que o problema da recepção dos textos oficiais passe ao cepticismo e ao temor de agressão aos crentes.
Procurar e edificar a paz leva a superar o literalismo na interpretação dos textos sagrados que pode conduzir ao fundamentalismo fazendo com que obscureçam a abertura à fé e à prática do amor.
Karl Barth falando da conversão escreveu que ela deve significar essencialmente conversão a Deus (não ao Deus autoritário o que seria uma desfiguração), ou seja, viver segundo o espírito e não segundo a carne. A frase "Que venha o teu Reino" traduz a ideia de que toda a criação aspira a uma libertação que ponha termo à fome de liberdade: «Vem, Senhor Jesus» («maran-atha»).
Continuando o seu pensamento o célebre teólogo alemão conclui: importa sim converter-se a Jesus Cristo e não a outra Igreja.
O tema da Semana da Unidade deste ano: «Quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estarei no meio deles» (Mt 18, 20) aponta, para além da oração, para outros âmbitos da vida, como a espiritualidade bíblica, o serviço à comunidade, a preocupação pêlos problemas que afligem a sociedade, entre os quais referimos a ecologia, as causas da paz e da justiça, a ética e a dignidade humana.
Aos responsáveis impõe-se a responsabilidade de levar por diante aprofundar o património dos outros. A cultura ecuménica constitui um enriquecimento que ajuda a radicar melhor a identidade de cada confissão cristã.
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Dr. Manuel Augusto Rodrigues,
In:Correio de Coimbra, 26jan06

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